segunda-feira, 15 de agosto de 2011

domingo, 14 de agosto de 2011

Texto de Mauro Volpini sobre fundamentos das relações entre Cultura, Trabalho e Educação

Reflexão sobre trabalho, práticas culturais e educação .


Mauro Volponi


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Com o trabalho o ser humano transforma as forças materiais em forças simbólicas: linguagem, valores, ideias. O que se faz com os braços, também se faz com o pensamento. E vice-versa. Portanto, não é difícil de notar que se usa o pensamento quando alguém trabalha fisicamente e, de alguma maneira, usa força física no trabalho intelectual.

Simbolizar é significar o mundo pela palavra. Com isso, é possível tomar consciência e/ou enganar-se no que se pensa sobre o mundo e sobre os outros. Os significados são criados por homens e mulheres, portanto podem ser transformados, esquecidos e recriados.

Entre os antigos gregos, o trabalho era relacionado com a escravidão. A escravidão, na filosofia de Aristóteles (século IV a.C.), funda-se no pensamento de que há homens que não podem ser considerados humanos pelo seu modo de viver, porque dependem do trabalho para sobrevivência. Entre os romanos, o trabalho seria uma espécie de castigo, uma punição para os derrotados nas guerras. Os romanos escravizavam os povos dominados pela força de seus exércitos. Já entre os cristãos, na idade média, o trabalho era associado à dor, ao sofrimento e à escravidão. Dos gregos ao final da idade média, o trabalho era símbolo da exclusão social, ou pelo menos, as pessoas que dependiam do trabalho não participavam da vida política. Alguns trabalhavam para a sobrevivência de todos, enquanto outros se dedicavam ao conhecimento, à espiritualidade e ao governo. O verdadeiro homem se aproximava mais das coisas espirituais, enquanto aqueles que produziam as condições materiais de sobrevivência estavam mais próximos da animalidade. É que, na antiguidade, a verdadeira vida humana, a vida ideal, a natureza humana, estava na vida contemplativa, na vida dedicada ao conhecimento e à virtude moral.

Contudo, a partir do renascimento (século XV e XVI) e com a modernidade, o trabalho ganha outro significado: ele passa a ser considerado como uma força de criação, como modo de intervenção humana na natureza, para transformá-la. Segundo Hegel, filósofo alemão do início do século XIX: “foi com o trabalho que o ser humano ‘desgrudou’ um pouco da natureza e pode, pela primeira vez, contrapor-se como sujeito ao mundo dos objetos naturais” (Apud KONDER, 1971, p.24). Quer dizer que, diferentemente dos antigos e medievais, os modernos passam a reconhecer a humanização no trabalho e não mais apenas como sofrimento e castigo.

Esse significado não é mais símbolo de exclusão, mas é o modo como o homem se afirma diante da natureza. Os homens e as mulheres já não buscam apenas contemplar a natureza, querem também agir sobre ela. Na modernidade é que o trabalho é valorizado como prática cultural. É pela atividade humana que homens e mulheres transformam a realidade e constroem material e simbolicamente o mundo. Assim, toda prática cultural é trabalho, na medida em que com ele o homem age em um mundo já construído, para transformá-lo em outro mundo com a esperança de uma vida social melhor.

O mundo humano é o mundo da cultura, produto da socialização, do regramento e da produção efetuados por homens e mulheres. Com a simbolização homens e mulheres podem registrar e construir significados. Com isso produzem conhecimentos. Com o regramento organizam, hierarquizam e disciplinam as relações sociais. Com o trabalho agem sobre a natureza e sobre si mesmos. Com isso produzem material e simbolicamente as condições de vida de homens e mulheres.

Se toda prática cultural é trabalho e as práticas culturais são diferentes, logo há diferentes tipos de trabalho e diferentes formas de trabalhar. Ou seja, o homem percebe que pelo trabalho pode garantir a sobrevivência e viver melhor. Isso permite que o trabalho se torne o centro da organização da vida social. Essa organização dividiu o trabalho entre os homens e sofreu transformações históricas, devido ao aparecimento de novas condições de trabalho, as quais dizem respeito às transformações técnicas e tecnológicas do mundo. São equipamentos que ajudam a produzir outros conhecimentos e novos equipamentos, para usá-los com outros e novos fins.

De acordo com Marx (Apud KONDER, 1971), a divisão do trabalho serve como elemento de regramento e hierarquização na sociedade. Uma das divisões que ocorrem é aquela que separa trabalho manual e trabalho intelectual. Essa divisão se baseia na diferenciação entre teoria e prática, que se estabeleceu na organização social desde os gregos antigos e torna-se mais enfática no mundo moderno, com as transformações na economia a partir da Revolução Industrial, iniciada no século XVIII. A divisão do trabalho favorece a hierarquização na sociedade, que põe o saber teórico ou trabalho intelectual ao lado do poder, e o trabalho manual sob domínio e controle do saber. Há uma significação e valorização do trabalho intelectual em contrapartida a uma desvalorização do trabalho manual, ficando o trabalho intelectual para quem “sabe mais” e o trabalho manual para quem “sabe menos”.

Conforme Marx (Apud KONDER, 1971), a modernidade criou uma visão simbólica para o trabalho, tornando o humano uma abstração de si. Um sujeito sem rosto. Como trabalhador, o indivíduo não possui vontade própria sobre o que e como produzir – esse poder de decisão não lhe pertence, como não lhe pertence o fruto de seu trabalho. Sua identidade, ao mesmo tempo que é sua, não lhe pertence. Foi-lhe atribuída por outro, mais precisamente definido pelo mercado. A revolução industrial, o conhecimento e os equipamentos técnicos e tecnológicos tornam o trabalho mais mecânico, mais previsível e dividido.

Assim, o trabalho parece uma espécie de espaço vazio que o trabalhador vai preencher. Quando um estiver cansado, ele é dispensado e outro entra em seu lugar. O trabalho passa a ser uma função social e o trabalhador já não trabalha mais naquele sentido de transformar livremente a natureza e a ele mesmo para produzir-se como humano. Passa simplesmente a cumprir uma função cujo fim ele desconhece, não tem consciência. Essa falta de consciência de homens e mulheres no trabalho, simplesmente, pode chamar-se de alienação.

De acordo com Marx (1978), se trabalho é toda a prática cultural, quando se está educando, está trabalhando e vice-versa. Agora, se o trabalho ou a educação faz esquecer que o que se realiza constitui o devir humano (transformação, mudança, tornar-se diferente do que já foi), então se trabalha alienadamente. Conseqüentemente, educa sem saber que educa. Se for assim, no trabalho e na educação que alguém faz, ao mesmo tempo esquece-se da sua humanidade e da humanidade de quem é por ele educado. Ainda conforme Marx (Apud MÈSZAROS, 2008, p.60) um processo de auto-alienação escravizante “efetiva transcendência da auto-alienação” seja caracterizada como uma tarefa inevitavelmente educacional, a universalização da educação e a universalização do trabalho como atividade humana auto-realizadora.


Fonte: VOLPONI, Mauro. Tecnologia na Educação e Interdisciplinaridade. Maringá: FCV, 2009.

Metalúrgicos do ABC estão mais escolarizados e ganhando melhor, mostra estudo do Dieese

Metalúrgicos do ABC estão mais escolarizados e ganhando melhor, mostra estudo do Dieese


21/07/2011 - 18h59

Cidadania


Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Os metalúrgicos do ABC Paulista estão mais escolarizados, mais velhos e ganhando mais. A constatação é de um estudo feito Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) a pedido do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O levantamento, que foi divulgado hoje (21), analisou os 107,5 mil trabalhadores representados pelo sindicato e distribuídos nas cidades de São Bernardo do Campo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

Se em 1994, praticamente metade dos metalúrgicos (48,6%) não tinha o ensino fundamental completo, os números de 2010 mostram que a escolarização da categoria evoluiu muito. No ano passado, 54,9% dos metalúrgicos do ABC tinham o ensino médio completo e 12,9% o nível superior.

“O aumento da escolarização é um fator muito importante, mas só ele não basta. Deve-se aumentar a escolaridade, assegurar o acesso dos trabalhadores à universidade e, tão importante quanto isso, oferecer formação profissional”, disse Sérgio Nobre, presidente do sindicato, destacando que uma das lutas da categoria será trazer uma escola técnica federal para a região. “Hoje temos um outro perfil de trabalhador. Na época do Lula [o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Luiz Inácio Lula da Silva era metalúrgico] era raro você encontrar alguém que tinha o segundo grau”, completou.

O estudo também observou que os metalúrgicos estão mais velhos. Em 1994, os trabalhadores com 50 anos ou mais somavam 6,7% do total. No ano passado, esse número chegou a 11%. Os jovens, até 30 anos, representam 37% do total ou cerca de 36 mil trabalhadores. De acordo com o levantamento, isso mostra que o conhecimento acumulado pelos metalúrgicos ao longo dos anos, a organização no local de trabalho e a mudança na legislação previdenciária, que torna a aposentadoria mais tardia, permitiram a manutenção dessa ocupação por um período mais longo.

A remuneração média mensal dos metalúrgicos do ABC também cresceu e é 44,2% superior à media salarial dos metalúrgicos de todo o Brasil. Um metalúrgico do ABC recebia, em média, R$ 3.604,19 em dezembro do ano passado, considerando-se também os cargos de chefia. Excluindo-se os cargos de liderança, a média salarial alcança R$ 3.242,83. Entre os metalúrgicos do Brasil, a média salarial, excluindo-se os cargos de liderança, é de R$ 1.809,91. O maior salário entre os metalúrgicos do ABC é pago pelas montadoras, chegando a atingir R$ 6.125,71.

O estudo também mostrou que a maior parte dos metalúrgicos do ABC continua sendo formada por homens (85,5%). Apenas 14,5% ou 15.569 trabalhadores da categoria são mulheres, mesmo número que era observado em 1994. “Não tem cabimento não ter 30% de mulheres em nossa categoria hoje. Mas, para isso, é preciso estabelecer cotas para, ao longo tempo, chegarmos a 30%”, disse Nobre.


quinta-feira, 16 de julho de 2009

Juventude tem déficit de trabalho decente - Do blog do Leonardo Sakamoto

Juventude tem déficit de trabalho decente, aponta OIT
Uma parte significativa da juventude brasileira apresenta grandes dificuldades de conseguir uma inserção de boa qualidade no mercado de trabalho. Frequentemente esta inserção é marcada pela precariedade, o que torna difícil a construção de trajetórias de trabalho decente. Elevadas taxas de desemprego e de informalidade e os baixos níveis de rendimento e de proteção social evidenciam essa dificuldade. Em termos relativos, os jovens brasileiros apresentam taxas de desocupação e informalidade superiores à média e níveis de rendimentos inferiores. Além disso, eles são os primeiros a perder direitos durante as crises econômicas - direitos que, muitas vezes, nunca serão repostos.
É o que aponta o relatório “Trabalho Decente e Juventude no Brasil”, lançado pela Organização Internacional do Trabalho, na manhã desta quarta (1), durante a Oficina Técnica sobre Trabalho Decente para a Juventude, que está sendo realizada em Brasília.
Os dados têm como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio de 1992 a 2006. Eles mostram, por exemplo, que o déficit é maior entre jovens negros (74,7%) do que para jovens brancos (59,6%). Pior ainda para as jovens negras, vítimas de “dupla discriminação”: o desemprego e a informalidade entre elas alcançava o índice de 77,9% .
Retirei do relatório alguns pontos interessantes:
Trabalho precário - A incidência do emprego sem carteira de trabalho assinada, excetuando o trabalho doméstico, era maior para os jovens do sexo masculino (35,7% de sua ocupação total) do que para as jovens do sexo feminino (25,2% de sua ocupação total). Contudo, a precariedade da ocupação das jovens trabalhadoras adquire outras formas: o trabalho doméstico sem carteira de trabalho assinada respondia por 14,8% da sua ocupação total. A importância relativa do trabalho doméstico como um todo (com e sem carteira) para as jovens era muito similar ao que ocorre no caso das mulheres adultas, o que evidencia o peso do trabalho doméstico no total do emprego feminino, situação que se reproduz ao longo de gerações. No entanto, o exercício dessa ocupação no caso das jovens se dá em uma situação ainda mais precária, já que, entre elas, a porcentagens das que trabalham sem carteira assinada (89,3%) era bastante superior ao das adultas (68,6%).
Economia - A taxa de participação dos jovens de 15 a 24 anos no Brasil em 2006 era de 63,9%. Isso significa que cerca de 2 em cada 3 jovens estava trabalhando ou buscando ativamente um trabalho. Na faixa de 15 a 19 anos essa relação caía para 1 em cada 2 jovens (50,4%), e, na faixa de 20 a 24 anos elevava-se para cerca de 3 em cada 4 jovens (77,5%). A taxa de participação é maior para os homens do que para as mulheres e para os brancos e negros do que para os indígenas e amarelos. É significativamente superior para os jovens que vivem na zona rural do que na urbana entre os 15 e os 19 anos.
Não existe uma referência do que seria a porcentagem ideal de jovens no mercado de trabalho. Para entender o número, é preciso levar em conta também os níveis de escolaridade e o tamanho da jornada de trabalho a que estão submetidos esses jovens. Aí aparece o problema.
Mercado de trabalho - Para uma melhor compreensão dos impactos da participação dos jovens no mercado de trabalho sobre a sua escolaridade, também devem ser considerados fatores como a duração da jornada de trabalho. Enquanto a freqüência à escola era de 57,8% para jovens com jornada de trabalho semanal de até 20 horas, ela se reduz para 30,3% nos casos em que essa jornada era superior a 20 horas semanais. É importante salientar que 83,6% dos jovens de 15 a 24 anos ocupados (15,3 milhões) tinham, em 2006, jornada de trabalho acima de 20 horas semanais, sendo a jornada média de trabalho de 38,4 horas semanais. Além disso, cerca de 1/3 do total de jovens ocupados (5,7 milhões de jovens) tinham uma jornada acima daquela legalmente estabelecida pela Constituição Federal (44 horas semanais).
Desigualdades educacionais – Elas prevalecem no Brasil entre as diferentes regiões do país, entre áreas urbanas e rurais, populações pobres e ricas, branca e negra. São limitadas e deficientes as oportunidades educacionais disponíveis para os jovens brasileiros pobres, negros, e para aqueles que vivem no campo e nas regiões Norte e Nordeste. Essa realidade tende a gerar diferentes padrões de inserção no mercado de trabalho para a juventude brasileira e dificultam a construção de uma trajetória de trabalho decente, criando um ciclo vicioso de reprodução da desigualdade e da exclusão social.
Escola e trabalho: Pode-se afirmar que a inserção dos jovens em ocupações precárias e informais, não contribui à sua qualificação profissional nem a possibilidades futuras de uma melhor inserção profissional. Além disso, o abandono da escola por parte dos jovens ocupados, em especial aqueles de baixa renda, pode decorrer não exclusivamente do trabalho, mas também de uma educação de baixa qualidade e pouco atrativa. Assim, uma parte importante da juventude de baixa renda no Brasil vive um dilema: a busca de trabalho por necessidade traz prejuízos à formação educacional formal, o que por sua vez gera impactos negativos sobre sua inserção futura no mercado de trabalho, em geral sem qualquer contrapartida significativa em termos de aquisição de experiência profissional de boa qualidade que contribua à construção de uma trajetória de trabalho decente.
Sugestões: a) Garantir acesso a uma educação de boa qualidade para todos os e as jovens, bem como garantir condições sociais para suas famílias para que estes possam ter uma trajetória educacional de melhor qualidade e que permita alcançar níveis mais elevados de escolaridade; b) Assegurar o crescimento econômico sustentado, e também as formas de aumento da produção, que promovam a geração de mais e melhores empregos em um contexto de globalização pela via da articulação das políticas econômicas e sociais e das políticas macro, meso e microeconômicas;c) Garantir a aplicação efetiva dos princípios e direitos fundamentais do trabalho; d) Ampliar e fortalecer a proteção social dos trabalhadores, em especial aqueles do setor informal, buscando conciliar seguridade social com eficiência produtiva e competitividade; e) Combater todas as formas de discriminação para reduzir as desigualdades; f) Fortalecer o tripartismo e o diálogo social; g) Estimular o debate juvenil na sociedade, bem como a participação de jovens na formulação, implementação e gestão das políticas de juventude; h) Aperfeiçoar o sistema de informações sobre a situação social da juventude, bem como do monitoramento e avaliação das políticas de juventude; i) Estimular um pacto social em prol do trabalho decente para a juventude.

Juventude tem déficit de trabalho decente - Do blog do Leonardo Sakamoto

Juventude tem déficit de trabalho decente, aponta OIT
Uma parte significativa da juventude brasileira apresenta grandes dificuldades de conseguir uma inserção de boa qualidade no mercado de trabalho. Frequentemente esta inserção é marcada pela precariedade, o que torna difícil a construção de trajetórias de trabalho decente. Elevadas taxas de desemprego e de informalidade e os baixos níveis de rendimento e de proteção social evidenciam essa dificuldade. Em termos relativos, os jovens brasileiros apresentam taxas de desocupação e informalidade superiores à média e níveis de rendimentos inferiores. Além disso, eles são os primeiros a perder direitos durante as crises econômicas - direitos que, muitas vezes, nunca serão repostos.
É o que aponta o relatório “Trabalho Decente e Juventude no Brasil”, lançado pela Organização Internacional do Trabalho, na manhã desta quarta (1), durante a Oficina Técnica sobre Trabalho Decente para a Juventude, que está sendo realizada em Brasília.
Os dados têm como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio de 1992 a 2006. Eles mostram, por exemplo, que o déficit é maior entre jovens negros (74,7%) do que para jovens brancos (59,6%). Pior ainda para as jovens negras, vítimas de “dupla discriminação”: o desemprego e a informalidade entre elas alcançava o índice de 77,9% .
Retirei do relatório alguns pontos interessantes:
Trabalho precário - A incidência do emprego sem carteira de trabalho assinada, excetuando o trabalho doméstico, era maior para os jovens do sexo masculino (35,7% de sua ocupação total) do que para as jovens do sexo feminino (25,2% de sua ocupação total). Contudo, a precariedade da ocupação das jovens trabalhadoras adquire outras formas: o trabalho doméstico sem carteira de trabalho assinada respondia por 14,8% da sua ocupação total. A importância relativa do trabalho doméstico como um todo (com e sem carteira) para as jovens era muito similar ao que ocorre no caso das mulheres adultas, o que evidencia o peso do trabalho doméstico no total do emprego feminino, situação que se reproduz ao longo de gerações. No entanto, o exercício dessa ocupação no caso das jovens se dá em uma situação ainda mais precária, já que, entre elas, a porcentagens das que trabalham sem carteira assinada (89,3%) era bastante superior ao das adultas (68,6%).
Economia - A taxa de participação dos jovens de 15 a 24 anos no Brasil em 2006 era de 63,9%. Isso significa que cerca de 2 em cada 3 jovens estava trabalhando ou buscando ativamente um trabalho. Na faixa de 15 a 19 anos essa relação caía para 1 em cada 2 jovens (50,4%), e, na faixa de 20 a 24 anos elevava-se para cerca de 3 em cada 4 jovens (77,5%). A taxa de participação é maior para os homens do que para as mulheres e para os brancos e negros do que para os indígenas e amarelos. É significativamente superior para os jovens que vivem na zona rural do que na urbana entre os 15 e os 19 anos.
Não existe uma referência do que seria a porcentagem ideal de jovens no mercado de trabalho. Para entender o número, é preciso levar em conta também os níveis de escolaridade e o tamanho da jornada de trabalho a que estão submetidos esses jovens. Aí aparece o problema.
Mercado de trabalho - Para uma melhor compreensão dos impactos da participação dos jovens no mercado de trabalho sobre a sua escolaridade, também devem ser considerados fatores como a duração da jornada de trabalho. Enquanto a freqüência à escola era de 57,8% para jovens com jornada de trabalho semanal de até 20 horas, ela se reduz para 30,3% nos casos em que essa jornada era superior a 20 horas semanais. É importante salientar que 83,6% dos jovens de 15 a 24 anos ocupados (15,3 milhões) tinham, em 2006, jornada de trabalho acima de 20 horas semanais, sendo a jornada média de trabalho de 38,4 horas semanais. Além disso, cerca de 1/3 do total de jovens ocupados (5,7 milhões de jovens) tinham uma jornada acima daquela legalmente estabelecida pela Constituição Federal (44 horas semanais).
Desigualdades educacionais – Elas prevalecem no Brasil entre as diferentes regiões do país, entre áreas urbanas e rurais, populações pobres e ricas, branca e negra. São limitadas e deficientes as oportunidades educacionais disponíveis para os jovens brasileiros pobres, negros, e para aqueles que vivem no campo e nas regiões Norte e Nordeste. Essa realidade tende a gerar diferentes padrões de inserção no mercado de trabalho para a juventude brasileira e dificultam a construção de uma trajetória de trabalho decente, criando um ciclo vicioso de reprodução da desigualdade e da exclusão social.
Escola e trabalho: Pode-se afirmar que a inserção dos jovens em ocupações precárias e informais, não contribui à sua qualificação profissional nem a possibilidades futuras de uma melhor inserção profissional. Além disso, o abandono da escola por parte dos jovens ocupados, em especial aqueles de baixa renda, pode decorrer não exclusivamente do trabalho, mas também de uma educação de baixa qualidade e pouco atrativa. Assim, uma parte importante da juventude de baixa renda no Brasil vive um dilema: a busca de trabalho por necessidade traz prejuízos à formação educacional formal, o que por sua vez gera impactos negativos sobre sua inserção futura no mercado de trabalho, em geral sem qualquer contrapartida significativa em termos de aquisição de experiência profissional de boa qualidade que contribua à construção de uma trajetória de trabalho decente.
Sugestões: a) Garantir acesso a uma educação de boa qualidade para todos os e as jovens, bem como garantir condições sociais para suas famílias para que estes possam ter uma trajetória educacional de melhor qualidade e que permita alcançar níveis mais elevados de escolaridade; b) Assegurar o crescimento econômico sustentado, e também as formas de aumento da produção, que promovam a geração de mais e melhores empregos em um contexto de globalização pela via da articulação das políticas econômicas e sociais e das políticas macro, meso e microeconômicas;c) Garantir a aplicação efetiva dos princípios e direitos fundamentais do trabalho; d) Ampliar e fortalecer a proteção social dos trabalhadores, em especial aqueles do setor informal, buscando conciliar seguridade social com eficiência produtiva e competitividade; e) Combater todas as formas de discriminação para reduzir as desigualdades; f) Fortalecer o tripartismo e o diálogo social; g) Estimular o debate juvenil na sociedade, bem como a participação de jovens na formulação, implementação e gestão das políticas de juventude; h) Aperfeiçoar o sistema de informações sobre a situação social da juventude, bem como do monitoramento e avaliação das políticas de juventude; i) Estimular um pacto social em prol do trabalho decente para a juventude.

Texto: Histórias de vida de profesores: o caso da Educação Profissional Suzana Burnier et allii

http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/275/27503513.pdf

OS SIGNIFICADOS DO TRABALHO SEGUNDO TÉCNICOS DE NÍVEL MÉDIO

http://www.scielo.br/pdf/es/v27n94/a08v27n94.pdf


RESUMO: Baseando-nos numa pesquisa realizada com duas gerações
de técnicos de nível médio, buscamos compreender os diálogos que
esse segmento de trabalhadores estabelece com o mundo do trabalho
no contexto da modernidade tardia. São aqui discutidos os significados
por eles conferidos ao trabalho, no contexto da reestruturação
produtiva. Como tal processo é percebido por esse grupo de trabalhadores
qualificados? Como percebem as atividades por eles exercidas
nas empresas? Em que medida são “cooptados” ou não pelos discursos
patronais? Que condições demandam para estabelecerem uma
relação positiva com o trabalho? Que tipos de relações sociais vivenciam
no trabalho e como as analisam? Pretende-se com o estudo contribuir
para a reflexão acerca dos processos formativos de trabalhadores,
escolares ou não, indicando os temas apontados pelos próprios
trabalhadores como centrais na sua experiência e, portanto, merecedores
de análise durante sua formação.
Palavras-chave: Trabalhadores qualificados. Representações. Significados.